UMA POSSIBILIDADE MARAVILHOSA: DA DISCÊNCIA À DOCÊNCIA: A BONITEZA DE SER PROFESSOR/A
Uma Possibilidade
Maravilhosa: Da Discência a Docência: a ‘boniteza’ de ser professor/professora
- PIBID
Apresentação:
O subprojeto “Da Discência a Docência: a ‘boniteza’ de
ser professor/professora” aprovado pela CAPES/PIBID em 2011, com inicio das
atividades em 12 de agosto deste mesmo ano, na UERGS - Unidade em São Luiz
Gozaga, RS está em adamento, com viviências e convivências de discentes do
Curso de Pedagogia – Licenciatura, em escolas públicas de ensino regular, no
municipio de São Luiz Gonzaga.
São Luiz Gonzaga, localizada a noroeste do estado do Rio Grande
do Sul é um dos Sete Povos das Missões. Estes foram criados em decorrência da
ação dos jesuítas destinada à catequese dos índios guaranis, habitantes da
região. Atualmente, esta parte do estado gaúcho é conhecida como um dos seus
principais bolsões de pobreza.
Diante dessas desigualdades regionais, a UERGS – Universidade Estadual do
Rio Grande do Sul – foi construída, em 2001, como uma Universidade pública
intencionada a agenciar crescimento harmonioso e desenvolvimento regional
sustentável[1].
Naquele ano, as 24 unidades da Universidade entraram em funcionamento, sendo
São Luiz Gonzaga uma dessas unidades.
No entanto, para atingir o objetivo de minimizar as disparidades até hoje
encontradas no estado, observou-se insuficiente restringir os esforços à
promoção da educação no nível superior. Faz-se necessário também intervir na
educação das novas gerações, desde sua infância. Ante a essa constatação, a UERGS
– Unidade em São Luiz
Gonzaga , ciente de que não havia esta oferta na micro-região,
implantou, há dois anos, o Curso de Pedagogia - Licenciatura, que traz em seu
âmago a preocupação de proporcionar à cidade de São Luiz Gonzaga e à região que
a circunda um profissional capaz de enfrentar os desafios da sustentabilidade
na contemporaneidade, isto é, professores/as capacitados para dialogar,
criticamente, com a realidade regional – que se reflete no ambiente escolar –,
mesclando teoria e práxis docente, de
forma a propor alternativas à prática escolar cotidiana.
Assim sendo, não pode o Curso de
Pedagogia – Licenciatura abreviar sua atuação aos bancos universitários. É meta
realizar um trabalho em conjunto com a comunidade, desenvolvendo projetos que
contemplem a formação de professores/as que possam atuar na docência com
conhecimento da sua realidade educacional. Pois somente um profissional que
consegue ir do livro à sala de aula e desta àquele, pode contribuir para tornar
realidade o compromisso firmado pela UERGS, quando de sua criação, com o
desenvolvimento gaúcho parelho. Desta forma, a Universidade tem a meta de ir
para além do ato de ensinar, buscando a indissociabilidade do ensino, pesquisa
e extensão, que visam a formação de profissionais igualmente dotados da
curiosidade típica do pesquisador/a e a disposição característica do
extensionista.
[...] daí então, que a nossa presença no mundo, o
nosso mover-se nele e na história vem envolvendo necessariamente sonhos por
cuja realização nos batemos.
Daí então, que a nossa presença no mundo, implicando
escolha e decisão, implicando escolha e decisão, não seja uma presença neutra,
a capacidade de observar, de avaliar para, decidindo, escolher, com o que,
intervindo na vida da cidade, exercemos nossa cidadania, se erige então como
uma competência fundamental. [...]. [FREIRE, 2000, p.16].
Objetivando proporcionar aos discentes do Curso de
Pedagogia - Licenciatura da UERGS – Unidade São Luiz Gonzaga vivências
escolares, que possam contribuir para sua formação docente inicial com
intercâmbio permanente e qualificado de ações propositivas na inserção da
realidade e rotina da escola pública; ancorada em estudos e pesquisas de
teóricos e docentes que ajudem a entender a ação de ‘professorar’ como uma
forma de intervenção no mundo, onde nada é neutro e, o exemplo docente, talvez
seja a única possibilidade de uma comunidade compreender a realidade que vive e
que poderá gerar alternativas de mudança, este subprojeto, “Da Discência a Docência: a ‘boniteza’ de ser professor/professora”
tem como pano de fundo, a leitura e escrita, o contato com o mundo letrado e a
apropriação deste mundo por alunos e alunas dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Para essa imersão nos espaços escolares os/as discentes observarão
a realidade escolar, participando de atividades rotineiras e extraclasse, na
busca do encantamento pelo fazer docente, pela aprendizagem efetiva de todos na
escola.
Ora, uma outra maneira
de se compreender o que a educação é, ou poderia ser, é procurar ver o
que dizem sobre ela pessoas como legisladores, pedagogos, professores,
estudantes e outros sujeitos um tanto mais tradicionalmente difíceis de
entender, como filósofos e cientistas sociais. [BRANDÃO, 2007, p.54]
Há rica produção teórica sobre o ler/leitura e
escrever/escrita na infância e/ou na escola. Inúmeras pesquisas, incluindo as
avaliações externas – SAEB e SAERS –, utilizadas como parâmetro para verificar
a efetivação da aprendizagem escolar, indicam que, tanto as crianças como
jovens e adultos que freqüentam a escola não conseguem aprender a ler e
escrever da forma socialmente valorizada no ano/série institucionalmente
programado. Índices alarmantes sobre a não aprendizagem são apresentados,
deixando o Brasil nos últimos lugares neste tema.
Justificativa:
Este subprojeto “Da Discência a Docência: a ‘boniteza’ de
ser professor/professora” justifica-se na medida em que a teorização, os
debates universitários e prática escolar e de sala de aula dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental se relacionam na aproximação e entrelaçamento da
Universidade com o cotidiano escolar, tendo como linha condutora a leitura e a
escrita na produção de novas formas de encantar a todos/as na escola.
Justifica-se, também, a realização deste subprojeto, após reuniões realizadas
com a Secretaria de Educação de São Luiz Gonzaga e 32ª Coordenadoria Regional
de Educação – CRE e partindo dos dados das avaliações externas (SAEB e SAERS) e
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, a atuação nestas três escolas
públicas do município de São Luiz Gonzaga. São duas escolas da rede municipal e
uma da rede estadual de ensino com IDEB entre 3,7 e 5,2 e que permitirão
acompanhar a boniteza das relações no espaço escolar, tendo a leitura e a
escrita como pano de fundo para vivenciar o movimento diário da/na escola.
Este contato dos/as discentes
com a realidade escolar proporcionará aos futuros/as professores/as um olhar
direto sobre o que é o processo ensino-aprendizagem nas Escolas Públicas e como
efetivamente se processam as práticas educativas e a inserção do alunado no
mundo letrado de forma sistematizada.
"A
Educação Permanente é uma concepção dialética da educação, como um duplo
processo de aprofundamento, tanto da experiência pessoal quanto da vida social,
que se traduz pela participação efetiva, ativa e responsável de cada sujeito
envolvido, qualquer que seja a etapa de existência que esteja vivendo.... O
primeiro imperativo que deve preencher a Educação Permanente é a necessidade
que todo se tornar mestre da sua práxis. O domínio de uma profissão não exclui
o seu aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre quem continuar aprendendo.
[FURTER apud BRANDÃO, 2007, p. 80 – 83].
Este subprojeto visa o
encantamento do fazer docente, na boniteza das relações, sendo basilar que o/a
docente tenha fortemente presente suas responsabilidades enquanto espelho para
muitas vidas que começam a dar seus primeiros passos em direção a um mundo
mágico, repleto de descobertas, chamado leitura e escrita que pode, dependendo
da situação vivida, ser o primeiro contato letrado.
Ao perceber o
esforço das três escolas envolvidas neste subprojeto de superação desta cultura
mecânica de aquisição da leitura e escrita, os/as bolsistas compreenderão
melhor a forma de atuarem, superando as vivências que tiveram enquanto
alfabetizandos/as na escola. Este reencantamento e redes-cobertas docente
ajudarão a refletir na própria ação diária das práticas que futuramente serão
ministradas. Isso se firma no duplo propósito deste projeto: o encanto e a
boniteza do fazer docente e a visão do que está sendo realizado na escola para
que todos/as aprendam a ler e escrever no ano/série em que estão e na própria
ação de professorar.
Objetivos:
GERAL:
Proporcionar aos/às discentes do Curso de Pedagogia – Licenciatura da
UERGS – Unidade São Luiz Gonzaga vivências escolares, que contribuam na sua
formação acadêmica amalgamadas com as atividades e saberes produzidos na escola
na troca de experiências entre os/as docente das três escolas públicas e os/as
discentes do curso de Pedagogia – Licenciatura.
ESPECÍFICOS:
·
Possibilitar às discentes bolsistas a vivência
no ambiente escolar levando a apropriação da realidade escolar e da leitura dos
dados das pesquisas sobre a aprendizagem escolar e as várias formas de
apresentação do mundo letrado, ao/à discentes dessas três escolas;
·
Articular os conceitos trabalhados na formação
inicial com as ações profissionais cotidianas, problematizando as práticas,
pesquisando alternativas de ação, reflexão e possibilidade de intervenção;
·
Conhecer e inserir-se na realidade das escolas
vivenciando o seu funcionamento e as variáveis do processo ensino-aprendizagem;
·
Entender as práticas culturais das escolas
envolvidas no subprojeto bem como seus instrumentos metodológicos;
·
Perceber a escola como mais um local onde se
processa a aprendizagem e a socialização de seus envolvidos/as;
·
Incentivar e subsidiar práticas de leitura de
livros e de mundo que resultem em produções textuais que relatem o entendimento
dos/as discentes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental acerca do que foi visto,
ouvido e lido.
·
Valorizar as produções textuais, de forma a que
os/as mesmos/as sintam-se incentivados e respeitados tendo assim, um novo olhar
sobre o mundo que os cerca.
·
Promover e participar de grupos de estudos
envolvendo literatura pertinente à aprendizagem escolar e as ações realizadas,
incentivando a escrita de artigos e publicações em periódicos educacionais e
jornais locais.
Estes objetivos partem do entendimento que educar e
educar-se, exige do/a docente mais do que formação. Exige antes de tudo, amor,
disponibilidade, conhecimento e desejo de também aprender com as vivências de
todos/as no espaço escolar, principalmente quando se trata de crianças.
A criança é o princípio sem fim. O fim da criança é o princípio do fim.
Quando uma sociedade deixa matar as crianças é porque começou seu suicídio como
sociedade. Quando não as ama é porque deixou de se reconhecer como sociedade.
[SOUZA, apud REDIN, p. 7].
METODOLOGIA:
O desenvolvimento deste
subprojeto será pautado na abordagem qualitativa e na pesquisa-ação, pois tem
como objetivo a interação entre pesquisadores/as e o grupo social pesquisado,
com envolvimento de modo cooperativo e participativo e o desenvolvimento de ações
planejadas, que consistem na observação, levantamento de dados, análise e
interpretação, elaboração de um plano de ação e na execução do plano de ação na
busca do encantamento pelo fazer docente. Diversas técnicas serão utilizadas
como a observação participante e entrevistas não dirigidas, conversas e
vivencias no espaço escolar, conforme consta no Projeto Institucional. De forma
geral, são características da pesquisa com abordagem qualitativa a objetivação
do fenômeno, a hierarquização de ações, como descrever, compreender, explicar a precisão das relações entre o
global e o local em determinado fenômeno, a observância das diferenças entre o
mundo social e o mundo natural, o respeito ao caráter interativo entre os
objetivos buscados pelos investigadores, as orientações teóricas e os dados
empíricos, a busca de resultados mais fidedignos possíveis, e a oposição ao
pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências
(GODOY, 1995).
Atuar nestas três escolas públicas com IDEB entre 3,7
e 5,2, situadas em três pontos completamente diferentes da cidade, cada uma com
sua história e suas possibilidades de enfrentamento de problemas sociais
atuais, como: drogas; violência; falta de saneamento básico; segurança e tendo
como pano de fundo a leitura e a escrita, reforça o entendimento de que a
palavra esta implicitamente ligada á leitura de mundo, tornando-se um só ato,
envolvendo uma compreensão critica do ato de ler que não se esgota na
codificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se
antecipa e se alonga na inteligência do mundo. Conhecer e vivenciar as práticas
docentes e de gestão dessas escolas, auxiliará na formação inicial e ajudará a
recriar a forma da escola estar na comunidade.
O que é o
PIBID?
O PIBID é um Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, que visa despertar nos
acadêmicos dos cursos de Licenciatura o encantamento de ser professor/a,
através de um primeiro contato com a realidade escolar, enquanto ainda
acadêmico/a.
Esta iniciação possibilita que
se formem profissionais que realmente se interessem pelo ato de professorar,
sem assumir uma carreira que não lhe trará nenhuma satisfação e o tornará
frustrado/a em suas expectativas enquanto professor/a.
Através dessa janela pode-se
observar uma escola por dentro, fato que pode despertar ou não o encantamento
do ato de professorar, pois muitos podem perder o interesse em tornar-se
professor/a ao deparem-se com o fato de que não existem milagres em educação, e
o comprometimento daqueles que se propõem precisam ser renovados a cada dia,
para que seus objetivos não se percam nas curvas do tempo ou sejam levados
pelos ventos do desânimo.
Esse projeto no qual atualmente atuamos
como bolsistas é difícil de ser enquadrado em uma única categoria, pois, tanto
pode ser classificado como pesquisa, uma vez que coletamos dados através da
observação e da conversa com aqueles/as que atuam como professores/as; como
ensino, porque possibilita observar o funcionamento da escola sobre a uma ótica
de professor/a, e extensão, porque trocamos conhecimentos, vivências e
experiências com alunos/as e educadores.
Nesta janela aberta pelo PIBID,
entende-se que é preciso que um/a professor/a seja movido/a pela utopia e pela
esperança de que se possa fazer algo para mudar a realidade em que se vive de
forma a melhorar a qualidade de vida dos seres humanos através de uma educação
de qualidade, porque sem esperança um/a professor/a não consegue levar a termo
seus objetivos.
Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e
atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança,
no pessimismo, no fatalismo. Mas, prescindir da esperança na luta para melhorar
o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, é pura
cientificidade, é frívola ilusão. Prescindir da esperança que se funda também
na verdade como qualidade ética da luta é negara ela um de seus suportes
fundamentais. [...] É por isso que não há esperança na pura espera, nem
tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã.
[FREIRE, 1992, p. 5].
No transcurso dos primeiros
meses de observação foi possível entender a colocação de Paulo Freire, pois,
não existem práticas pedagógicas que subsistam à desesperança, principalmente
de professores/as que atuam diretamente em sala de aula.
Apenas observar não foi
suficiente nestes primeiros meses, também sentimos desejo de participar
juntamente com as professoras da confecção de materiais didático-pedagógicos,
onde os alunos foram a parte mais atuante e participativa.
Observamos a cada nova produção,
o brilho de ansiedade em cada olho, a expectativa pela aprovação, ou não, de
seus trabalhos, de suas produções textuais, das caixinhas decoradas e o sorriso
de satisfação enfeitando seus rostos cheios de esperanças e certezas, felizes
por cumprirem com as tarefas solicitadas. Desta forma, o/a professor/a
reconhece que seu/sua aluno/a possui potencial para crescer como individuo e
valoriza sua leitura de mundo, suas vivências e experiências.
Esta vocação para o ser
mais que não se realiza na inexistência de ter, na indigência,
emanda liberdade, possibilidade de decisão, de escolha, de autonomia. Para que
os seres humanos se movam no tempo e no espaço no cumprimento de sua vocação,
na realização de seu destino, obviamente não no sentido comum da
palavra, como algo a que se está fadado, como sina inexorável, é preciso que se
envolvam permanentemente no domínio político, refazendo sempre as estruturas
sociais, econômicas, em que se dão as relações de poder e se geram as
ideologias. A vocação para o ser mais, enquanto expressão da natureza
humana fazendo-se na História precisa de condições concretas sem as quais a
vocação se distorce. [FREIRE, 2001, p. 8].
O Instituto Estadual de Educação Professor Osmar Poppe
requer uma estrutura bem organizada e um planejamento com um cronograma que
precisa ser cumprido à risca, sob pena de que a improvisação possa resultar em
um desastre e uma grande decepção para os alunos e para aqueles que estão
atuando em sala de aula.
Um/a pibidiano/a precisa ter em
mente que não é o/a aluno/a que está atuando, mas um/a futuro/a professor/a,
que terá sob sua responsabilidade alunos que estão ávidos por aprender e que
espelham-se em suas atitudes e conhecimentos.
Ser professor/a é estar sempre
em evidência, ter telhado de vidro e ser espelho, porque onde quer que esteja
estará sempre presente o profissional, que se sobrepõe à pessoa. Ser
professor/a é uma escolha definida pelo fato de gostar de ensinar e aprender,
de trocar vivências e experiências, mesmo com aqueles a quem supostamente
precisa-se ensinar.
Para atuar na carreira docente
precisa-se levar em conta que nem sempre a remuneração será aquela esperada,
mas que a carreira encanta aqueles que se dispõe a olhar a educação sem
preconceitos ou cifras, voltando-se apenas para o ato de ensino-aprendizagem.
O PIBID, antes de colocar a
questão salarial, nos coloca diante da esperança e do encantamento por ser
professor/a, mesmo com todas as dificuldades encontradas, mas que se possa
superá-las e encontrar o caminho para que proporcione uma educação de qualidade
e com igualdade a todos/as.
Porém necessita-se entender que
somente a esperança e o sonho não se realizam sozinhos se não nos dispusermos a
lutar por aquilo em que acreditamos, mesmo que inicialmente possa parecer um
fato longínquo, quase inatingível. Se os teóricos da educação não acreditassem
que tudo é possível, será que teríamos atualmente um sistema educacional
organizado?
Para ser professor/a não se deve
levar em conta o “eu”, mas pensar no “outro”, como uma extensão daquilo que
pretendemos desenvolver enquanto seres atuantes em sala de aula. É colocar-se
no lugar do outro e descobrir a melhor forma de satisfazer a sua curiosidade e
sua ansiedade em aprender dos saberes escolares e do mundo que os cerca.
O grupo do
“eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o
caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa
lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo
resulta num considerável reforço da identidade do “nosso” grupo. No limite,
algumas sociedades chamam-se por nomes que querem dizer “perfeitos”,
“excelentes” ou, muito simplesmente, “ser humano” e ao “outro”, o estrangeiro,
chamam, por vezes, de “macacos da terra” ou “ovos de piolho”. De qualquer
forma, a sociedade do “eu” é a melhor, a superior. Representada como o espaço
da cultura e da civilização por excelência. É onde existe o saber, o trabalho,
o progresso. A sociedade do “outro” é atrasada. E o espaço da natureza. São os
selvagens, os bárbaros. São qualquer coisa menos humanos, pois, estes somos
nós. O barbarismo evoca a confusão, a desarticulação, a desordem.
O selvagem é o que vem
da floresta, da selva que lembra, de alguma maneira, a vida animal. O “outro” é
o “aquém” ou o “além”, nunca o “igual” ao “eu”. [ROCHA, 1988, p.5-6]
Um/a professor/a que entrar em
seu ambiente de trabalho armado de preconceitos e indiferenças pelo outro,
certamente terá uma carreira fadada ao fracasso, seu próprio enquanto
profissional, com alto índice de reprovação e rejeição de seus alunos, porque
ninguém aprende nada, se aquele/a que se dispuser a compartilhar os
conhecimentos não estiver desprovido da armadura da soberba do achismo. O
entendimento de que o outro não é um selvagem e desgarrado, torna-se
fundamental para que haja uma sintonia e aproveitamento do que se ensina e se
aprende isto se aplica tanto para os/as alunos/as quanto para os/as professores/as.
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Acesso em: 13/02/2011.
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